O uso de contraceptivos orais e TRH em Mulheres com Aneurisma Cerebral

A Hemorragia Subaracnóidea (HSA) causada após a ruptura de um aneurisma cerebral (AC) é uma condição muito grave, com taxa de mortalidade de cerca de 50% dos pacientes afetados. Aproximadamente 65% dos pacientes com AC são do sexo feminino. Existem várias hipóteses que tentam justificar essa maior incidência de aneurisma cerebral em mulheres, como fatores hormonais, alterações nas paredes dos vasos sanguíneos, mudanças hemodinâmicas, ações genéticas, fatores ambientais, como o tabagismo, mas a razão para essa alta prevalência ainda não está clara.

O uso de anticoncepcional oral (ACO) tornou-se comum entre as mulheres desde a década de 1960, inicialmente para controlar os sintomas menstruais e como contracepção. Nessa mesma época, a terapia de reposição hormonal (TRH) começou a ser usada para tratar sinais da menopausa.

Ao longo dos anos, as dosagens e os tipos de combinações hormonais têm mudado devido aos efeitos colaterais, como aumento do risco de coágulos sanguíneos, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio, trombose e câncer de mama. Além disso, alguns estudos indicaram que o uso de anticoncepcionais orais e TRH pode oferecer proteção contra a formação de aneurismas cerebrais e reduzir o risco de  hemorragias subaracnóideas, mas os resultados foram inconsistentes.

O objetivo do estudo foi realizar uma revisão sistemática da literatura com meta-análise para avaliar o efeito do uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal como fatores de proteção contra formação e ruptura de aneurismas cerebrais.

Método

Fazer uma revisão sistemática da literatura com meta-análise, utilizando as bases de dados PubMed e Embase e o método PRISMA. A questão clínica foi a seguinte: as mulheres que utilizam anticoncepcional oral (ACO) ou terapia de reposição hormonal (TRH) têm menor incidência de aneurisma cerebral ou menor risco de hemorragia subaracnóidea (HSA) quando comparadas às mulheres que não utilizam ACO ou TRH? Foram incluídos estudos de caso-controle e coorte publicados até dezembro de 2022 nesta revisão.

Os dados e as descobertas

Nesta revisão, foram incluídos quatro estudos, dos quais três foram elegíveis para meta-análise. Em relação ao uso de anticoncepcionais orais e o desenvolvimento de hemorragia subaracnóidea, observou-se menor risco de ruptura de aneurismas, com uma razão de chances de 0,65 (intervalo de confiança de 0,5 a 0,85). 

Na análise de pacientes que utilizaram terapia de reposição hormonal e desenvolveram hemorragia subaracnóidea, também houve menor risco de ruptura de aneurismas, com um OR de 0,54 (IC 0,39 a 0,74). Apenas um artigo analisou a formação de aneurismas intracranianos em relação ao uso de terapia de reposição hormonal e anticoncepcionais orais, e observou-se um efeito protetor com o uso dessas medicações: anticoncepcionais orais: OR 2,1 (CI 1,2–3,8) e terapia de reposição hormonal: OR 3,1 (CI 1,5–6,2). (não entendi esta parte…você diz que 1 aumentou aneurisma e o mesmo foi protetor???)

Conclusão e resumo das evidências

Com base nos resultados desta meta-análise, é possível inferir que o uso de anticoncepcionais orais (ACO) e terapia de reposição hormonal (TRH) pode ter um efeito protetor em relação ao risco de hemorragia subaracnoideia (HSA) em mulheres portadoras de aneurisma cerebral. No entanto, os dados ainda são limitados na literatura para inferir que o uso de ACO e TRH tem um efeito protetor na formação e ruptura de aneurismas cerebrais. 

Assim, devemos indicar com cautela os ACO e TRH nas mulheres portadoras de aneurisma cerebral, procurando utilizar doses baixas de estrogênio e sempre monitorar de perto estes pacientes, com angiografia por tomografia computadorizada ou por ressonância magnética, visando a sua segurança.

Ainda são necessárias pesquisas adicionais para confirmar o efeito protetor dessas terapias e conclusões definitivas sobre sua influência na formação de aneurismas cerebrais.

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