Qualidade da dieta vegetariana e risco de AVC: qual é a relação?

Já é bastante conhecida a informação de que manter uma dieta saudável é importante para prevenir doenças vasculares. A novidade que uma pesquisa recente parece demonstrar é que especificamente uma dieta saudável à base de vegetais está associada à redução do risco de uma pessoa sofrer acidente vascular cerebral (AVC) total e AVC isquêmico.

Essa é uma boa notícia, pois pode contribuir para a prevenção do AVC. O acidente vascular cerebral é, hoje, a principal causa de incapacidade no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Até 70% dos pacientes não retornam ao trabalho após um AVC devido às sequelas e metade fica dependente de outras pessoas no dia a dia.

O estudo Quality of plant-based diet and risk of total, ischemic, and hemorrhagic stroke (“Qualidade de dietas à base de plantas e risco de acidente vascular cerebral total, isquêmico e hemorrágico”, em tradução livre) foi publicado na revista científica Neurology em março de 2021.

Os cientistas que conduziram o estudo analisaram dados de três pesquisas anteriores com grupos de participantes norte-americanos sem histórico prévio de doenças cardiovasculares ou câncer, realizadas entre 1984 e 2017, totalizando cerca de 200 mil pessoas.

A cada dois ou quatro anos, os voluntários preencheram um questionário de frequência alimentar. Assim, foi possível analisar seus hábitos à mesa a partir desses registros.

Os pesquisadores classificaram como vegetarianos os pacientes que comiam alimentos vegetais ou outras fontes de origem animal, como manteiga, laticínios ou ovos, mas ingeriam menos de uma porção por mês de carnes ou peixe. Os demais participantes foram considerados não vegetarianos.

Qualidade da alimentação à base de plantas

A associação entre dieta vegetariana e saúde vascular não é nova. Em relação ao risco de AVC, outros estudos já haviam sido realizados anteriormente para checar a ligação da dieta vegetariana e risco de AVC. Porém, eles apresentaram resultados conflitantes ou inconclusivos.

Uma das explicações para isso é que a maioria desses estudos simplesmente considerou o consumo ou não de carne, sem diferenciar a qualidade dos alimentos vegetais ingeridos pelos voluntários.

A boa notícia, agora, é que os pesquisadores conseguiram classificar a dieta baseada em vegetais de acordo com quão saudável ela é.

• Dieta baseada em vegetais saudáveis (hPDI): são exemplos: frutas, verduras e alimentos frescos.
• Dieta baseada em vegetais não saudáveis (uPDI): alimentos contendo grãos refinados e açúcares adicionados, por exemplo.

Assim, a qualidade da dieta baseada em vegetais foi verificada em relação ao risco de acidente vascular cerebral.

Principais resultados

AVC total

• Pessoas que adotaram dietas à base de plantas tinham o IMC mais baixo, praticavam mais atividades físicas e eram menos propensas a fumar. No geral, apresentaram risco menor para AVC total em comparação com pessoas que consumiam mais carne.

• Os participantes com predomínio de alimentos saudáveis tiveram um risco significativamente menor de AVC total.

• Em contrapartida, aqueles com maior consumo de alimentos vegetais não saudáveis demonstraram um risco ligeiramente maior de desenvolver AVC total.

AVC isquêmico

• Os participantes vegetarianos, em conjunto, tiveram menor risco de AVC isquêmico.

• As pessoas com maior consumo de alimentos vegetais saudáveis tiveram risco ainda menor se comparadas àquelas que comiam mais alimentos não saudáveis.

AVC hemorrágico

• Não foi possível realizar correlação entre as dietas baseadas em plantas e o risco de AVC hemorrágico.

Por que a qualidade da dieta é importante?

Nem todas as dietas à base de plantas são iguais. Afinal, comer frutas, hortaliças, grãos integrais e legumes é diferente de ingerir alimentos ricos em sódio, açúcar, farinhas refinadas e aditivos químicos.

A relação entre o consumo de alimentos vegetais e a saúde cerebrovascular provavelmente está relacionada à ingestão de nutrientes benéficos. Os alimentos considerados saudáveis no estudo são justamente aqueles ricos em vitaminas, minerais, fibras, flavonoides, polifenóis e outras substâncias que podem reduzir o risco de doenças.

Os resultados da pesquisa reforçam esse entendimento. Já existe ampla literatura científica que indica que as dietas ricas em frutas e vegetais, como a chamada dieta mediterrânea, são benéficas para a saúde da circulação sanguínea cerebral. O novo estudo se soma a essas descobertas, demonstrando que a qualidade das dietas à base de plantas também tem um impacto significativo no risco de acidente vascular cerebral.

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